sábado, março 28, 2009

Teu pomar.

Nessa de tentar ser um jornalista, às vezes eu tento ser poeta... quem sabe um dia eu consigo ser uma coisa.... ou outra coisa...
Reclamas que sou ácido. Sou pomar regado por gotas de tua chuva. Se sou seco é porque fui arado com teu rastelo. Se insensível é porque não te ocupastes em tirar meus espinhos. Se feio aos olhos é por simples conta de teus maus tratos.

Se não perfumo mais teu ambiente, devo isto aos teus constantes abandono ao relento. Se outros pássaros não vem me visitar e pousar sobre meus ramos é a certeza de que teu horrendo espantalho está desempenhando com louvor sua função.

E não me venha cobrar magníficas folhagens se me adubas com o veneno que não mata e pela mesma razão não deves procurar sombra sob os galhos que arrancastes com tuas mãos tão vis.

Eu apenas pedi um pouco de sol e tu me destes um punhado de trevas. Clamei, com sede, de tua fonte e poluíste-me com teus dejetos. Quis proteção, mas fui prisioneiro de teu estúpido muro.

Portanto, não supliques vida, pois cultivastes apenas as rudes ervas da morte.

sábado, março 21, 2009

Estava certa a raposa?

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.

Não sou contra o livro de Antoine de Saint-Exupéry, muito pelo contrário. Gosto do ensinamento sobre a amizade e fidelidade. Acontece que esta famosa frase da raposa, e copiada pelas “miss alguma coisa” ao redor do globo, começou a ecoar na minha mente de uma maneira diferente, com um peso maior. Eu sou realmente eternamente responsável por aquilo que eu cativo? Meu Deus, quanta responsabilidade sobre as minhas costas...

Não! Eu não sou eternamente responsável por aquilo que eu cativo e, por favor, não venham me cobrar isto. Eu sou eternamente livre para ir e vir. Eternamente livre para tomar as minhas decisões e escolher quem passará a tal eternidade ao meu lado ou, pelo menos, em meu coração e pensamentos.

É fácil para qualquer ser humano encostar-se no outro e dizer “me cativaste, tu tens obrigação para comigo”. Como assim Bial? Quer dizer que você se afeiçoou à minha pessoa e agora eu tenho dívidas para com você? Não! E enfatizo: não!

Parto de um princípio básico que os seres humanos mudam. A pessoa que me foi importante e especial até ontem, por algum ou por vários motivos pode muito bem não ocupar mais este espaço hoje. Não sou escravo de outro indivíduo por mais que o meu passado junto a ele tenha sido incrivelmente fantástico e marcante.

Não! Reforço: não! Não sou eternamente responsável por outras pessoas. Sou eternamente responsável por mim mesmo, pela minha vida, pelo meu bem estar, pela minha felicidade e respeito próprio. Sou eternamente responsável por garantir a minha integridade como homem. Não pense que vais se atirar em um poço e que eu vou me atirar junto contigo porque tenho “obrigações” para com a tua segurança ou vida. Sequer imagine que pode fazer o que bem entender comigo, massacrar um coração, trair uma mente, esbofetear uma face, oferecer pouco caso e abandono em troca de um passado glorioso.

Não! Não serei eternamente responsável por qualquer pessoa que não seja esta que está nesta pele e, neste momento, contrariando a raposa mais amada do planeta. Serei eternamente fiel às pessoas ao meu redor, eternamente centrado e as respeitarei como são e dedicarei o meu tempo particular dependendo do merecimento de cada uma. Se precisar abandoná-las, terei um bom motivo e uma justificativa sincera e plausível. Serei eternamente justo com estas pessoas e as amarei eternamente quando assim se fizer correto. Mas me desculpe raposa, eu não serei eternamente responsável por estas pessoas, por aquilo que eu cativei.

“Se tu vens as quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz”. Mas se eu souber que tu não virás mais, não esperarei mais por ti. Não há nada de eterno nisso...